Aqui estou

A ideia de grupo existente nas espécies poderia vincular no caso humano como conjunto de pessoas buscando o mesmo objetivo, entendido aqui, busca de soluções. Isto é válido à outros animais que se agrupam por proteção, ou melhor, êxito na alimentação. Difere de grupamento no qual os membros possuem objetivos distintos. Tentando buscar um porto à questão, surge o Dr Sigmund Freud falando sobre o assunto em ‘Dois grupos artificiais: Igreja e Exército’. Diz que “na Igreja e no Exército, mesmo bastante diferentes, prevalece a ilusão de um cabeça, na Igreja o Cristo e no Exército o Comandante Chefe que ama a todos de forma igual”. Segundo o psicanalista ”tudo gira em torno desta ilusão, caso abandonada, se dissolveriam por ação de força externa”. Complementa sua ideia acerca da ilusão do amor igual repercutido na vida familiar, visível segundo o psicanalista, na preferência materna por um dos filhos. Pela negativa de preferência por nenhum deles, sentimentos primitivos se demonstram no cotidiano inconsciente. Afinal, a busca pela ilusão do amor igual prevalece por conta da integração e união familiar. A família se insere nos parâmetros freudianos.
Nesta ideia de grupos com cabeça centralizadora e consequente manutenção da unidade é pertinente Jonathan Safran Foer em seu livro ‘Aqui estou’. Oriundo da resposta de Abraão ao chamamento divino, trata da desintegração familiar, da perda vivenciada numa família judaica cuja maior característica está na recusa em se calar. Oscila entre o adolescente rebelde que rejeita raízes familiares, principalmente via comida judaica solicitada em momentos reflexivos. Trata-se de um divórcio envolvendo sobretudo a alma judaica, em que a família de classe alta americana entra em processo de desintegração. Por conta de insultos entre os personagens, tudo termina em uma separação traumática. Talvez emblemático na perda da chefia e ilusão da igualdade pretendida por Freud.
Karl Marx contemporâneo do nascente conceito de novo judaísmo alemão em que ideias religiosas se instrumentalizam através do estado, cujos frutos estão claramente vistos pelas gerações posteriores. O Deus homem cristão foi em Marx deslocado pelo materialismo do estado sob a tutela do líder totalitário, com nítida base na vida cristã e comunitária dos primeiros convertidos, buscando afrontar perseguições e adversidades. Já Sigmund Freud ao solicitar que cristianismo e exércitos necessitam à sobrevivência uma cabeça centralizadora, por ser de uma geração convivendo em forte anti semitismo, ignorou ideias judaicas por centralização no Deus único. Difere pela espera do Messias e duas diásporas vividas pelo povo judeu, que por si colocariam a questão sob exame. Estas duas realidades talvez ajudassem ao Dr Baumann enriquecer mais sua modernidade líquida, ou, porque antes mesmo de se completar, tudo já parece obsoleto. A moral dessa história será um claudicar coletivo, cujo prenúncio acontece quando seus árduos defensores começam a silenciar diante fatos. A vida como ela é.

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